quarta-feira, 20 de junho de 2012

Silenciar

Conheci um menino mudo. Ele não falava porém, ouvia, era um caso clínico complexo, que agora não vem ao caso.
Não lembro o seu nome mas lembro que andava sempre acompanhado por um megafone ambulante: sua vizinha sardenta.
Iam e voltavam da escola juntos, o menino mudo sempre apagado diante da voz sobressaliente da menina ruiva.
Ela falava, com as árvores, com as pedras e com os animais, falava do tio doente, do namorado bobo, da casa fechada e da vida torta.
Uma vez ela voltava da aula sozinha, o menino mudo não havia ido a escola. As ruas pareciam silenciosas de mais, a mudez parecia agora da menina.
Calada ela parou em uma lanchonete e pediu um suco. A garçonete percebendo que algo estava errado perguntou sobre o motivo do seu silêncio. A menina disse que era a falta do amigo. A garçonete retruca:- mas ele é mudo, não existe diálogo entre vocês!
A menina responde: - onde existem duas pessoas, sempre existe diálogo. Ele não falava, mas me escutava; ele não falava, mas sorria; ele não falava, mas respondia com o olhar. Ele conversava comigo, eu o entendia.

As vezes não entendemos os motivos que levam as pessoas a se gostarem, e serem companheiras, a dividirem momentos. Nos questionam: mas ele é velho de mais; ela é chata; ele só pensa em ser astronauta; ela isso; ele aquilo...  o que devemos perceber, é que apesar das diferenças sempre existem pessoas que nos fazem bem, que nos preenchem e é por isso que a falta deles pode ser cruel. Os outros, deveriam entender que o que é defeito para uns, é qualidade para outros.

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